Histórico
O Baralho Petit Lenormand, composto por 36 cartas, foi criado por Marie-Anne Adélaïde Lenormand, a grande Sibila do Século XIX.
Mlle. Lenormand, como é mais conhecida, nasceu na cidade francesa de Alençon, região de Orne, em 27 de maio de 1772.
Sua vida e obra estão envoltas numa aura de mistério e lendas, mas podemos afirmar, com toda a segurança, tratarse de uma pessoa altamente evoluída, versada em Astrologia, Mitologia, Cabala, Tarô, Numerologia, Alquimia, Geomancia, e também no estudo das Flores como instrumento de mensagem oracular. Nos seus 71 anos de vida, ficou famosa pelas previsões que fez às figuras ilustres da época, como Jean Paul Marat, Antoine Saint-Just, Maximilien Robespierre, Fouché, Barras, General Moreau, o cantor Garat, o pintor David, o príncipe Talleyrand, Napoleão Bonaparte e sua esposa, Joséphine de Beauharnais.
Mlle. Lenormand era ao mesmo tempo temida e respeitada – uma verdadeira “bruxa”, sempre acompanhada de seu fiel gato preto. Era uma mulher de porte altivo e elegante, dotada de grande força de vontade e autoridade. Sua comunicação era clara, com análise das questões feita com imparcialidade e precisão. Era dotada de forte intuição aliada a uma mente calma, ponderada e prática, e tinha habilidade manual acentuada e sensibilidade artística – ela mesma
idealizou e desenhou seus baralhos. Gostava de envolver-se em Baralho Petit Lenormand - G. Spacassassi atividades intelectuais, passando longos períodos nos museus e bibliotecas, pesquisando e estudando. É provável que tenha tido participação ativa em grupos esotéricos, que nessa época eram obrigados a se manter ocultos, já que forte repressão era exercida por parte das autoridades. Não podemos esquecer que, desde 1666, JeanBaptiste Colbert, ministro francês, ao fundar a Academia de Ciências proibiu a prática e o estudo da Astrologia e de todos os outros ramos do conhecimento esotérico, tachando-os de crendices e superstições.
Para evitar problemas, ela mantinha em sua residência na Rue de Tournon, 5 - Faubourg Saint-Germain, a “Livraria Mlle. Lenormand”, onde discretamente atendia a clientela num pequeno salão cabalístico localizado no porão do edifício.
Consta que praticava seu trabalho de acordo com as posses do cliente: este poderia optar por uma consulta de 6, 10, 20 ou 400 francos. Mas, como era uma escritora prolífera, sua livraria provou ser ainda um canal extremamente eficiente e lucrativo na distribuição e divulgação de suas obras, dentre as quais destacaremos:
Les Memoires Históriques et Secrets de l’Imperatrice Joséphine.
Les Souvenirs Prophétiques.
Les Oracles Sibyllins.
La Sybylle au Tombeau de Louis XVI.
La Sybylle au Congrés d’Aix-la-Chapelle.
Suivi d’un Cup-d’oeil sur Celui de Carlsruhe.
Les Souvenirs de la Bélgique ou Le Procés Mémorable.
L’Ange Protecteur de La France au Tombeau de Louis XVIII.
L’Ombre de Catherine II au Tombeau d’Alexandre I.
Sua infância em Alençon foi muito boa. Seu pai era um abastado comerciante de tecidos. Tão logo atingiu a idade escolar, foi matriculada na Abadia Real das Monjas Beneditinas.
Durante sua permanência neste local, Marie-Anne experimentou os primeiros lampejos de seus poderes psíquicos, anunciando a iminente transferência e substituição da Abadessa por uma senhora proveniente da região de Picardie.
Baralho Petit Lenormand - G. Spacassassi
Sendo uma simples criança, divulgou os detalhes de sua visão cerca de dez meses antes de o evento materializar-se, e quando os fatos comprovaram o acerto de sua previsão, é fácil imaginar o espanto e a admiração que tomou conta de toda a irmandade.
Com a morte de seu pai os negócios foram drasticamente atingidos, resultando sérias dificuldades financeiras. Mlle. Lenormand, depauperada, mudou-se em 1786 para Paris.
Trabalhadora incansável e estudante dedicada, logo conseguiu certa estabilidade e, nos anos futuros, graças à sua competência nas artes adivinhatórias, granjeou expressiva notoriedade e respeito junto à alta sociedade francesa da época.
Mlle. Lenormand viveu num período conturbado, marcado pela queda da monarquia absoluta e a ascensão da classe média ao poder.
A difundida crença de que a Revolução Francesa irrompeu porque a maioria do povo passava fome por falta de pão e de que a rainha Maria Antonieta, ante esse fato, teria dito a célebre frase: “Se não têm pão que comam brioche”, está longe de ser uma verdade histórica. A França, às vésperas da Revolução, era ainda uma nação rica e forte. A ascensão da classe média, detentora do poder econômico e faminta de poder político, foi a condição básica para o deflagrar da Revolução.
Os pobres e miseráveis que antes existiam continuaram na mesma situação, ou até pior, após a instauração do novo governo. O regime de terror que se estabeleceu, e teve seu auge sob a ditadura de Maximilien Robespierre, causou mais de 20 mil vítimas – uma matança estarrecedora que só nas últimas seis semanas de sua ditadura fez rolar 1285 cabeças no cadafalso de Paris.
Mlle. Lenormand, inteligente, ativa e idealista, dedicada aos estudos e a ajudar ao próximo, sonhava com um mundo melhor e, a seu modo, como intelectual, acompanhava e analisava os movimentos sociais da época. Quando eclodiu a Revolução, seus líderes utilizaram-se de todos os meios para conseguir o poder e, como normalmente acontece nessas situações, não tiveram escrúpulos em aceitar a participação e ajuda das mulheres e, provavelmente, de outras minorias em suas fileiras. Assim, durante o processo Baralho Petit Lenormand - G. Spacassassi revolucionário, as mulheres participaram ativamente da luta, liderando as passeatas que acabaram levando o rei a abandonar o seu castelo em Versailles. Mas, como sempre acontece, depois de terem sido “usadas” pelos líderes, logo foram esquecidas e colocadas de lado. Na Assembleia Nacional Francesa, em 1789, foi promulgada a Declaração dos Direitos dos Homens que, como o próprio nome indica, contemplava somente os direitos dos homens.
Surge como consequência o primeiro movimento para a liberação feminina, liderado por uma mulher notável, Marie Olympe Gouges, escritora francesa nascida em 1748. Em Paris formaram-se vários grupos que passaram a lutar por igualdade de direitos políticos em relação aos homens, mudanças na legislação conjugal e melhores condições de vida. Em 1791, Marie Olympe publicou a Declaração dos Direitos da Mulher. Os resultados foram a sua condenação à morte em 1793, por ordens de Robespierre, e a proibição de toda e qualquer atividade pública para as mulheres. Isto nos dá uma ideia de como o grande ideal “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” foi muito rapidamente esquecido e substituído pela ganância, injustiça e violência.
Nesse mesmo ano de 1793, é tido como certo que Mlle. Lenormand teria recebido em sua casa a visita de ilustres consulentes – Marat, Saint-Just e Robespierre. Mlle. Lenormand, diplomaticamente, conclamou-os a tomarem consciência da gravidade da situação reinante, e não hesitou em alertá-los de que seriam vítimas de morte violenta e de que somente um deles (Marat) teria um honroso funeral; os outros dois seriam alvo do escárnio e da zombaria do povo
enfurecido. Nunca saberemos se eles acreditaram ou não na profecia, mas a História confirmou, com todos os detalhes, o acerto das palavras de Mlle.Lenormand.
Graças a sua fama e sabedoria, Mlle. Lenormand circulava livremente nas altas rodas da sociedade parisiense da época.
Essa mulher, com seu charme e mistério, cativava a todos; seu nome estava sempre na lista de convidados importantes, tanto das grandes festas como das reuniões mais íntimas e seletas da sociedade.
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Em uma dessas festas conheceu Joséphine de Beauharnais, futura esposa de Napoleão Bonaparte, que nessa época era apenas um oficial de artilharia. Pouco tempo depois, tornaram-se amigas, e Joséphine tomou-a por conselheira.
Mlle. Lenormand prognosticou que Napoleão ascenderia ao trono da França e dominaria grande parte da Europa; previu também sua queda, associada à sua ambição e seu orgulho desmedido.
Napoleão, incrédulo, deu uma gargalhada ao ouvir tal previsão, mas, novamente, Mlle.
Lenormand estava certa!
É interessante mencionar que Napoleão não nutria muita simpatia por ela. Durante seu curto reinado, mandou prendê-la por duas vezes sob a alegação de que promovia agitação social e política. Mas, como nenhuma prova concreta pode ser apresentada contra ela, Napoleão foi forçado a libertá-la.
Mlle. Lenormand faleceu em 25 de junho de 1843, deixando uma herança considerável de aproximadamente 120.000 francos. Ela foi sepultada no Cemitério Père Lachaise, em Paris.
Ela jamais foi esquecida! Sua sepultura continua sendo visitada... Sempre coberta de flores e testemunhos de graças alcançadas.
Por algum motivo desconhecido, o material escrito e os baralhos criados por Mlle. Lenormand desapareceram temporariamente, após Baralho Petit Lenormand - G. Spacassassi sua morte.
Por volta de 1893 – 50 anos após sua transição – seus dois baralhos voltaram à circulação:
1. Grand Jeu de Mlle. Lenormand: composto por 54 cartas de simbolismo complexo, onde são utilizados princípios Astrológicos, Mitológicos, Herméticos, Alquímicos e Florais.
2. Petit Lenormand: composto por 36 cartas.
Na época atual, o Grand Jeu de Mlle. Lenormand é publicado na França pela Grimaud Cartomancie, France Cartes. O Baralho Petit Lenormand é publicado e impresso na Suíça, pela AGM AGMüller.
Fonte: scribd
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